Saturday, April 19, 2008

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É uma história contada cantada. Misto de letra e música.
E voz, elemento primordial, a enobrecer, ainda quando banal a narrativa.
E representação, em enredos elevados ou burlescos.
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Impetuosa e arrebatada. Emotiva.
A Ópera.
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Canta Amor e Morte, sentimentos pungentes, lágrimas e sorrisos.
O destino dos seus compositores não foi diferente, idolatrados ou ignorados, conheceram sucesso ou miséria. Assim o dos seus cantores.
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Herança histórica, inovação, sucessão de estéticas, em trânsito, refaz a História, no rasto de todas as artes. Diverte, moraliza, na simultaneidade do não simultâneo.
Lancinante ou hilariante.
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A Ópera, feminina, temperamental.
Intemporal.
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Friday, April 18, 2008

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Alma Schindler (1879-1964)
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A noiva do vento
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Ele há musas…
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Alma Mahler Gropius [Kokoschka] Werfel

compositora, a mulher mais bonita de Viena
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Alma, a mulher dos grandes génios. Amante de Gustav Klimt, mulher de Gustav Malher, compositor; depois de Walter Gropius, famoso arquitecto, fundador da Bauhaus; e, por fim, de Franz Werfel, poeta e novelista. Entre os seus amores conta-se ainda Oskar Kokoschka (que, com Klimt, era outro dos pintores do famoso trio vienense), porventura o que mais exacerbadamente a amou.

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Gustav Klimt

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Os seus homens parecem escolhidos pelo talento e inteligência, vultos-referência que seriam de um tempo. Escolhia-os ela porque promissores? Adivinhava-lhes o potencial criativo?
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Gustav Mahler
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E, por outro lado, incentivando-os, saberia que inscrevendo-os na História da Arte, garantia para si mesma a eternidade?
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Walter Gropius
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Seria Alma megalómana? Ou tão somente visionária, apaixonada pelo belo? Pelo belo seduzida, já que, pela beleza, sedutora?
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Oskar Kokoschka
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Quando, a seu tempo, os conheceu, Werfel não sabia que viria a ser famoso, ou Gropius ou Kokoschka. Mesmo Mahler, embora já maestro famoso e director da Royal Opera House, ainda não conhecera o sucesso como compositor. Digamos que o instinto de Alma sabia achar um génio.
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Franz Werfel
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Musa foi. E a ela se vergaram as artes maiores.
A sua vida foi guião de filme, argumento teatral. Alma era maior que a vida.
Inteligente, bonita, misteriosa, Alma, ou a arte de conquistar as artes. De as abraçar e de por elas ser abraçada.
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Oskar Kokoschka. A Noiva do Vento
[a Alma]
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Tuesday, April 15, 2008

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ao meu amigo Luís Calheiros, nas tintas meu Mestre.
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O ser mais capaz de gozar plenamente o prazer de viver é, também, (talvez por isso mesmo), o mais carente de vida. Escassa e curta que ela é, manifestamente curta!
O Homem é o único animal de toda a criação que se descobre absolutamente infeliz. E a sua infelicidade resulta, precisamente, da mais-valia da sua condição- a razão, a consciência de si. Fado insuportável!
Os seus raros momentos de felicidade plena duram pouco, são fugazes, breves instantes... momentâneas iluminações numa penumbra continuada.
Vive, ... mas vive "acompanhado" da consciência cabal da frágil condição da sua existência... macaco nu e desamparado!
Vive, ... mas vive revoltado, amargurado, inconformado, perante a impotência de não comandar o seu devir, e, sobretudo, perante a lucidez de visão desolada da (sem) razão última da vida... que vive uma única vez.
Vive, ... mas vive dolorosamente o sem-sentido absurdo que retira, pesados todos os momentos, do estranho drama, trágico-cómico, que é a sua vida entre a dos outros, seus iguais em condição.
Frágil marioneta de deuses loucos, dramaturgos de uma qualquer peça dum grand-gignol cósmico.
O Homem é uma criatura precária, demasiado precária! Um ser provisório, com termo súbito (mas esperado!). Com apertado prazo de validade!
Em direcção certa ao não-ser.
A morte é a comarca final, enigma ameaçador, porque imensamente desconhecido e inteiramente indecifrável, e por isso efabulado por uma filosofia meta-humana, e ainda assim demasiado humana, melancólica de esperança. A morte provoca uma ontologia amargurada pelo desespero e a mágoa.
Perante a morte, como perante a vida, e o amor, é impossível, imperdoável, incontornável, ficar indiferente. É difícil permanecer incólume ao abeirar desse território terrível de medonho.
Porque o que fica, fica indelevelmente marcado como um lugar incompleto... magoado de falta, onde a única verdade imediata é o pesado e pungente silêncio do vazio, da perda, da ausência...
E a morte é o único e irrepetível momento da existência que é feito de absoluta individualidade… morremos sozinhos. Irremediavelmente!
A morte é também, finalmente, o momento das certezas últimas, ou melhor, da grande e cabal certeza que responde inteiramente ao nosso eterno questionar. O elucidativo momento em que as duas hipóteses absolutamente antagónicas e excluidoras do nosso devir existencial se transformam numa só resposta: - ou matéria que se transforma em matéria (e já não haverá disso consciência, pois ela se irá fundir no todo!); ou um puro espírito que animará um "além", que agora apenas pode ser sonhado pela esperança efabuladora, e nunca afirmado racionalmente, isto é pela vivência esclarecedora e confirmadora da experiência. Tudo ou nada! Deus ou um escuro sem fim! Um paraíso eterno de luz junto de um pai divino que nos abraça no fim... reconfortante quimera... ou pó juntando-se ao pó maior da terra.
Certo é haver morte depois da vida, como incerto é haver vida depois da morte.
O Homem é pequeno e efémero. De uma pequenez insignificante. De excessiva finitude. Tudo é fogo-fátuo, extinção súbita... ou reconversão, reciclagem! Sucessivos eternos-retornos do nada ao nada!
IN TERRIS NIHIL ÆTERNUS EST, escrito lapidar, sentença irrefutável, encontrado numa parede de uma casa de Pompeia, grafito nervoso e contudo sereno, talvez escrito por um romano lúcido, iluminado pela hora amarga, em derradeiro instante de verdade, imediatamente anterior à morte intempestiva nas lavas vulcânicas do Vesúvio.
"O Homem não passa de barro, pó, cinza". Eis o juízo edificante que encontramos em todos os textos mais antigos e sagrados das mais diversas comunidades humanas.
Mas a filosofia, a poesia, a arte, virtuosas gnoses, quando veículos da reflexão serena e dasapaixonada sobre a finitude do Homem, ensinam-lhe a sabedoria do desapego sensato das coisas e dos bens de que se rodeia - a elevação moral do despojamento -, e também, lucidez acrescida, a bondade do coração na generosa disposição para a fraternidade. "Estamos todos no mesmo barco, ... a mesma sorte; somos iguais marinheiros, ... irmãos de navegação!"
A filosofia, a poesia, a arte, ensinam-no a substrair-se da continuada condição de escravo cego do cansativo existir sobrio de todos os dias, do rotineiro e constante recomeço de guerras e escaramuças que movemos uns contra os outros... como se de obrigatória Tarefa de Sísifo se tratasse... outros Caim e Abel danados e amaldiçoados, mil gerações após.
A fama, vaidade máxima do Homem dura um "ai". Andy Warhol dixit: "15 minutos de fama"... quinze parcos minutos!
É precário tudo o que é humano.
E a filosofia aponta essa precaridade, essa escassez, que nos tabela e iguala inteiramente no fim do caminho. Fama, Glória, Fortuna são deixadas... ao pó dos tempos vindouros. (Sótãos desolados... memórias desbotadas, esmaecidas!... ou antigalhas para ostentação dos filhos e dos filhos dos filhos... novos enganos!).
Bens e riquezas são banalidades terrenas, trivialidades, vaidades, apenas!
Tudo passa... SIC TRANSIT GLORIÆ MUNDI.
Porque um pó, apenas pó, barro, terra, nos volvemos, todos iguais, no fim dos fins!
Acrescente-se, agora, algum alento que ameniza a dureza azeda e cruel destas irrefutáveis verdades, mórbidas e escatológicas que são, a reflexão naturante, panteísta, réstia de moderada satisfação cósmica-de Baruch Spinoza: "Os Homens são os modos finitos da Substância Infinita".
Remate final, andante presto deste retrato da tragédia humana, visto ao modo optimista prudente. Siga-se à letra o lema horaciano: CARPE DIEM (aproveita o dia). Vive o teu dia intensamente! Como se fora o primeiro, ou o último, ... o único!
Dá assim um passado vivido ao teu futuro!
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Luís Calheiros. Vanitas Vanitatum Et Omnia Vanitas, 1999.
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Thursday, March 20, 2008

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Lugar da Cura da Alma
Casa da Vida
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Feitas em argila quente, as tabletas, primeiros livros, surgiram na Suméria, hoje sul do Iraque, em 3300 a.C.. Assim as primeiras bibliotecas, casas de tabletas. Os sumérios, crendo na origem sobrenatural do livro, atribuíam a Nidaba, deusa dos cereais, a sua invenção, e a esta os escribas oravam antes e depois do seu labor. Várias cidades sumérias possuíam a sua biblioteca, Ur e Adab (2800-2700 a.C.), Fará, Abu Salabik e Kis (2600-2500 a.C.), Lagas (2400 a.C.) e, cerca de 2200 a.C.,o príncipe Gudea, rei de Lagash, cria uma biblioteca com textos históricos e poemas de Enkheduanna, a primeira escritora conhecida, hinos à terrível deusa Inanna.

Na Síria, eram conhecidas as bibliotecas de Ebla (2500 a.C.) dedicada à pesquisa filológica, devastada pelo fogo dos saqueadores aquando do ataque ao palácio real. Outras havia, a do palácio de Zimri-Lim, a de Ugarit, multilingue e que perdurou até 1190 a.C..

A sul da actual Bagdad, destaca-se, em 1750 a.C., uma nova cidade, Babilónia. Era célebre a biblioteca do palácio, e ainda as de Shaduppum e de Sippar.
Hattusa, cidade hoje a leste de Ancara, Turquia, era a capital do império hitita, importante civilização da Ásia Menor, porque a ela pertencia o domínio do segredo do ferro. Aí existia uma biblioteca cujas tabletas continham textos em oito línguas diferentes, e mais havia, nas cidades de Emar e Ugarit.
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Os grandes coleccionadores de livros do mundo antigo… Quem foram?
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Conquistador do império hitita, Ramsés II (1279 a.C.-1213 a.C.), adorado pelos gregos e egípcios, faz erigir um templo, Ramasseum, onde guardava a sua biblioteca sagrada, uma das primeiras bibliotecas de papiros. A ela chamava Lugar da Cura da Alma, compreensível pois que o seu espólio debruçava-se sobre a farmacologia e fontes esotéricas, num misto de medicina e magia.

Assurbanipal (668 a 627 a.C.), rei assírio, grande defensor da cultura, é o primeiro rei a saber escrever em tabletas. Erige uma grande biblioteca no seu palácio, na então cidade de Nínive, sendo o primeiro grande coleccionador de livros do mundo antigo.

Entre 1500 a.C. e 300 a.C. do Oriente Médio, em cinquenta e uma cidades, existiam 55 bibliotecas e 225 arquivos.

Os gregos chamavam ao livro byblos, em homenagem à cidade fenícia. Antes do papiro, Creta usava, à maneira suméria, a placa de argila aquecida. Aos gregos se deve o primeiro comércio dedicado ao livro, após a revolução cultural acontecida no séc. V, que impõe a cultura escrita à oral.

Aristóteles de Estagira (384 a.C.-322 a.C.), O Leitor, outro grande coleccionador de livros. Com a morte de Alexandre Magno, de quem era tutor, foge para a Ilha de Eubea, quando a ele fora atribuído o assassinato. Aí, lega em testamento a sua biblioteca a Teofrasto de Eleso, e este a Neleo, que, por sua vez, esta terá vendido à Biblioteca de Alexandria. Porque acreditava, também, na culpabilidade de Aristóteles, o imperador de Caracala terá, então, mandado queimar muitos dos livros do autor.
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Os livros… Quem os destruiu?
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Chamavam os egípcios às bibliotecas Casas da Vida. Nelas se guardavam e interpretavam os textos divinos. Se copiavam também. Construídos pelos faraós, o Ramasseum e a biblioteca de Edfu, no templo dedicado a Horus [aqui se expunha a imagem de Seshat, a deusa da escrita], podem ter sido os antepassados da biblioteca de Alexandria. Desapareceram quando os cristãos atacaram os monumentos pagãos do Egipto.

Após o assassinato de Ramsés III, Akhnatón mandou que se descobrissem os conspiradores. Porque um confessa ser possuidor de um papiro mágico, que o tornava num deus tão poderoso quanto o faraó, Akhnatón foi um dos primeiros a queimar livros, visando consolidar a religião.

Entre os biblioclastas conhecidos encontram-se alguns dos grandes filósofos. E reis. Seleuco, século II a.C., que ao ser nomeado rei, manda queimar todos os livros encontrados, para que com ele começasse a contagem de um tempo novo.
Quanto aos filósofos, motivos vários os moveram, negando o seu próprio discurso quando insuficiente (Platão, 427 a.C-347 a.C.), porque queimá-los significava que estes haviam sido absorvidos ao decorá-los (Bion de Borístenes, c. 335 a.C.-246 a.C.), ou porque consideraram esses textos fantasias pouco demonstráveis e úteis (Metrocles de Maronea, c. 325 a.C.).
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Alexandria, a mais famosa biblioteca do mundo antigo. Os livros terão sido destruídos pelo cristão Teófilo, que ataca o Serapeum (389 d.C), e a biblioteca (391 d.C.), destruindo o primeiro e saqueando a segunda. Se a destruição do Serapeum se sabe obra de Teófilo, já os romanos e árabes foram também apontados como possíveis destruidores da biblioteca.
Alvitra-se, ainda, que esta destruição possa ter sido devida a um terramoto, pois que estes eram frequentes, havendo deixado parte de Atenas submersa.
Rival de Alexandria, a Biblioteca de Pérgamo, cujos livros Marco António terá oferecido a Cleópatra como prova de amor, foi inovadora no uso de livros de couro e carneiro depois de Ptolomeu, dela invejoso, ter proibido a exportação de papiro para Pérgamo. Quer hajam sido destruídos, quer se tenham tornado parte do espólio de Alexandria, esta biblioteca também desapareceu.
No que aos primeiros livros gregos diz respeito, sabe-se que datados do século IX a.C., não existe hoje qualquer vestígio. E porque o primeiro conhecido é o Papiro Derveni (séc. IV a.C.), resultam quinhentos anos de memória perdida.
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Não só a Inquisição destruiu livros. Não só a imoralidade os condenou. Ou o receio do pensamento livre. Também a procura de uma perfeição absoluta, ou o recomeço.
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O Paraíso pode ser uma grande biblioteca, disse Borges. Lugar dos livros perdidos, quiçá, acrescento. Eterno retorno, entre a criação e a destruição, nascimento e morte.
O mito da destruição liga-se à essência dos deuses, num mesmo tempo criadores e devastadores. Fogo e água eram deuses, purificadores e renovadores.
Se a água foi o elemento natural que mais livros danificou, pelas inundações e humidade, o fogo foi o recurso apocalíptico por excelência, morte por negação/dissolução. Não do objecto enquanto ele mesmo, material, mas enquanto memória. É o fogo purificador o meio apurado pelos biblioclastas como o único capaz de quebrar esse vínculo livro/memória.
O fogo, elemento primordial na vida do homem.
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fonte
BAÉZ, Fernando. História Universal da Destruição dos Livros. Ediouro. Rio de Janeiro, 2006
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Imagens, Jonathan Wolstenholme
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Saturday, March 8, 2008

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Eram a imagem dos Loucos Anos 20-30. Les garçonnes, cabelos curtos em linha recta, silhueta esguia, algo andrógina, hesitante entre o masculino ou uma nova feminilidade, rosto da emancipação e liberalização femininas. As saias vão encurtando, em 1924 sobem a 26cm do chão, no ano seguinte a 30 ou 35, mas a garçonne traz a excentricidade. O vestuário enriquece de pedrarias e outras bijutarias, os braços despidos exibem numerosas pulseiras. É o feminino, a dizer-se. Ao mesmo tempo, o pescoço nu valoriza os grandes brincos, é com Louise Brooks que o corte à la garçonne se torna lenda, sendo o cinema o veículo da sua divulgação.
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As duas grandes guerras vêm diluir as diferenças entre homem e mulher pois, na ausência destes, são elas quem tem de tomar as rédeas do país e desempenhar trabalhos que antes lhes estavam interditos. Munitionettes, cheminottes, obusières, fabricam munições, conduzem táxis, autocarros, cobram bilhetes, trabalham em fábricas, são polícias. E têm, ainda, um fundamental papel na Resistência Francesa. Escrevendo, pintando, mesmo as actividades clássicas, como a costura, tornam-se uma profissão remunerada. Ousando.
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O seu envolvimento nas grandes guerras levou-lhes uma liberdade no estar e nos comportamentos nunca antes vista. Simultaneamente, introduziu mudanças no vestuário vulgarizando o uso das calças, aligeirando os vestidos, que se queriam práticos dadas as actividades laborais.
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A garçonne não apenas usa cabelo curto, veste calças e pratica desporto, imagem que, desde a última década de oitocentos, se alia ao masculino. As calças, já antes usadas em traje de equitação, calça ou prática de golfe, vêm para ficar no vestuário do quotidiano, vontade de imitar os homens na sua liberdade, acesso para a igualdade.
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Sendo a calça a peça de vestuário que diz da virilidade masculina, poderá considerar-se que esta busca de igualdade assenta, numa primeira fase, na negação da feminilidade, dada a vontade expressa de imitar os homens. E, porque o vestuário, traço cultural determinante do sexo, aponta um lugar na vida social, numa sociedade onde o poder é masculino, adoptar a forma de vestir do homem torna-se uma afronta.
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As mulheres russas conseguiram o voto em 1917, as inglesas em 1918, seguiram-se as luxemburguesas no ano seguinte, e as americanas em 1920. As turcas obtêm-no em 1930, e as espanholas em 31. Embora a Revolução Francesa lutasse pela igualdade, nela se envolvendo as mulheres, por ele lutando desde 1791, o nascer livre e com iguais direitos aos dos homens levou Olympe de Gouge à guilhotina, e o sufrágio universal, após a Revolução de 1848, atendeu apenas metade da população, a metade masculina. As sufragistas, empenhadas em apelos públicos, numa intensa campanha após 1900, apenas em 21 de Abril de 1944, conseguem o direito ao voto, com de Gaulle.
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Sendo o homem o chefe do clã, era este quem pela família deveria votar. As mulheres, destinadas por natureza e vocação a serem mães, deveriam ser guardiãs da família e seus valores, não mais. Porém, o destino feminino deixa de ser apenas esposa, mãe, dona de casa apontando outros caminhos, as mulheres investem em interesses que não apenas o lar ou a costura, vão-se destacando em outros domínios, conquistam um lugar no campo artístico.
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Renée Vivien e Anna de Noailles escrevem poesia, Isadora Duncan deslumbra com a sua dança, Mistinguett cativa Paris, tornando-se a vedeta mais popular dos Folies Bergère, Moulin Rouge e Eldorado. Louise Brooks brilha no cinema, Alice Guy é pioneira como operadora de filmagens, Camille Claudel realiza as primeiras esculturas, Lili Boulanger, é célebre compositora, Suzanne Valadon faz do seu estúdio o Musée de Montmartre, Elise Laroche torna-se a primeira mulher no mundo a obter a licença de pilotagem. Mulheres corajosas que, enfrentando a sociedade, triunfaram sobre as falsas morais e o preconceito, tornaram-se senhoras da sua própria vida, a elas se devendo o grande passo para a modernidade.
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Saturday, February 23, 2008

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- O seu olhar tem qualquer coisa de música tocada a bordo dum barco, no meio misterioso de um rio com florestas na margem oposta
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Veste teu ser do ouro da tarde morta, como um rei deposto numa manhã de rosas, com Maio nas nuvens brancas e o sorriso das virgens nas quintas afastadas. E o som da água acompanhe tudo esto como um entardecer ao pé de margens, e o rio, sem sentido salvo correr, eterno, para marés longínquas.
Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentidos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram.
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todas as naus são naus de sonho
logo que esteja em nós o poder de as sonhar
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Perfumes estonteantes
atiram-me embriagada
sobre os cetins roçagantes
da minha colcha encarnada
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Turva hora onde
Principia a noite
E o dia se esconde
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Nunca deixo saber aos meus sentimentos
o que lhes vou fazer sentir
Brinco com as minhas sensações
como uma princesa cheia de tédio
com os seus grandes gatos prontos e cruéis
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Em espasmos delirantes,
numa posse insaciada -
rasgo as sedas provocantes
em que me sinto enrolada!
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Olha como vai escurecendo!

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Hora de abandonos

Em que a gente esquece

Aquilo que somos

E o tempo adormece
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Tomo o cetim às mãos cheias.
Sinto latejar as veias
na minha carne abrasada!
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Nevoenta hora
Hora de ninguém
Em que a gente chora
Não sabe por quem.
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Torcem-me o corpo desejos
mordendo o cetim com beijos

numa ânsia desgrenhada.
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Na alcova mórbida e morna
a antemanhã de lá fora
é apenas um hálito de penumbra
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E tudo se esconde
Nessa hora onde
Por estranha magia
Brilha o sol de noite
E o luar de dia.
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Judith Teixeira. A Minha Colcha Encarnada, in Noite de Dezembro - Horas de Febre
Natália Correia. Turva Hora Onde, in Rio de Nuvens
Fernando Pessoa / Bernardo Soares. Livro do Desassossego
Imagens, Colette Calascione
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Thursday, February 14, 2008

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Valentine's Day
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vermelho, o primeiro pigmento
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spirit.love.energy
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imagens Femina Generation
video in
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Tuesday, February 5, 2008

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Detesto muros. Nunca sonhei com precipícios, pesadelo que parece ser o mais recorrente. Os meus pesadelos de adolescência eram com muros. Uma parede que se erguia e que eu não conseguia ultrapassar. E era grande o desespero, naquele meio tempo que vai até ao despertar. Palpava, tacteava, um muro, que já depois de bem desperta percebia ser a parede contrária do quarto. Acordava com cabeça e pés trocados de lugar :)
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Sorrio, mas continuo a detestar muros.
Ainda que as grades sejam de madeira,
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ou serpenteiem em harmonioso ondular.

Sibilante contudo.


Viperino.
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Muros de injustiça, tacanhez, intolerância, imbecilidade

que teimam erguer-se aos céus, quando descem aos infernos. Em injuria, desonra, prepotência.
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Melilla - Ceuta
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Berlim
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Berlim
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Belém - Jerusalém
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Belém - Jerusalém
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Arábia Saudita -Iraque
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