Wednesday, August 15, 2007

Sonhos em Quadradinhos

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A Banda Desenhada terá nascido nos Estados Unidos nos finais do séc. XIX, embora exista na Europa, resultado de uma longa evolução, uma tradição anterior de histórias contadas através de imagens, muito para tal havendo contribuído a escolaridade pública obrigatória e o desenvolvimento da Imprensa, em força durante a Revolução Industrial do séc. XVIII, sendo que, já no início deste século, o pintor e gravador William Hogarth contava cenas da vida londrina através de estampas.
. Gravura de William Hogarth, 1733
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Em França, Jean Charles Pellerin imprimia, desde 1796, estampas coloridas (Images d’Epinal), divididas em doze vinhetas, com texto sob a imagem, narrando em imagens, embora ainda sem interacção entre estas, acontecimentos históricos e bíblicos e contos populares. Estas imagens, distribuídas por vendedores ambulantes chegaram mesmo às novas colónias americanas.
. Imagens de Epinal
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É no séc. XIX, início de 1890, que a Banda Desenhada nasce nos Estados Unidos, com Richard Outcault,que no quotidiano New York World, em narrativas de quatro ou cinco imagens, conta histórias de crianças dos bairros populares de Manhattan, os Katzenjammer Kids.
.Yellow Kid
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O herói é Yellow Kid,as palavras surgem escritas na sua camisa e, pela primeira vez há interacção entre texto e imagem. Posteriormente, Rudolph Dirks tem a ideia de criar balões de fala.
. Zig, Puce et la petite princesse, por Alain Saint-Ogan, 1934
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Lidas por adultos e crianças, estas primeiras bandas desenhadas produzem-se em massa e a concorrência entre as páginas de domingo dos vários jornais é grande, sendo após 1920 a sua idade de ouro, dando a banda desenhada fielmente conta dos acontecimentos sociais e económicos.
. Popeye the Sailorman, por Elzie Crisler Segar, 1929
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Popeye (1929), Betty Boop (1931), Flash Gordon (1934),Mandrake (1934), Superman e Batman(1938). Mickey Mouse (1930), Donald Duck (1934), Pogo (1949) e Peanuts (1950), as personagens sucedem-se.
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Hergé (Remi Georges) (1907–1983)
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Hergé resulta das iniciais (R G) do nome invertido de Georges Remi. Belga, a inspiração para o seu personagem Tintin veio do seu irmão Paul, sendo muitos dos seus restantes personagens baseados em pessoas das suas relações. Tintin, o jovem repórter, nasce em 1929, no Petit Vingtième, suplemento semanal (Le Journal de Tintin) de um quotidiano católico de Bruxelas, primeira produção a rivalizar com as americanas. O seu primeiro livro é Tintin au Pays des Soviets, 1930, alcançando Hergé toda a fama no pós Segunda Guerra.
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O seu trabalho caracteriza-se por um colorido exuberante e o Ligne Claire, estilo de que foi pioneiro e consiste em desenhar com contornos de fortes linhas negras, destacando e individualizando os objectos, assim os enfatizando, e onde as sombras são quase sempre ausentes. O humor predomina e o mistério é resolvido com lógica.
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Carl Barks (1901-2000)
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Americano, os seus primeiros desenhos foram publicados na revista canadiana The Calgary Eye-Opener, e falavam de discriminação sexual e racial.
Em 1936 começa a trabalhar nos estúdios Walt Disney, para os quais, entre 1943 e 1966, escreve e desenha centenas de histórias sobre a personagem
Donald Duck
. É ele o criador de Duckburg e seus habitantes.
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Ub Iwerks (1901-1971)
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Americano, conhecido pelo seu trabalho para Walt Disney, vencedor por duas vezes do prémio Academy Award. Pode ser considerado o verdadeiro criador de Mickey Mouse pois foi ele quem lhe “desenhou” o carácter. Os primeiros desenhos de Mickey foram por ele realizados e publicados em 1930.
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Albert Uderzo (1927- )
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René Goscinny (1926-1977)
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Estamos no 50 antes de Cristo. Toda a Gália foi ocupada pelos romanos... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor. E a vida não é nada fácil para as guarnições de legionários romanos nos campos fortificados de Babaorum, Aquarium, Laudanum e Petibonum...
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Assim inciam todas as histórias de Asterix, o gaulês.
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Uderzo, desenhador, e Goscinny, roteirista, conhecem-se em 1951, tornam-se amigos e começam a trabalhar em conjunto no ano seguinte. É em 1961 que as histórias de Astérix surgem publicadas, pela primeira vez, em livro (Asterix, le Gaulois), após dois anos de publicação na revista Pilote. A encomenda fora feita por François Clotaud que pretendia uma produção francesa destinada às crianças que, até então, apenas liam banda desenhada americana. Surgem assim as personagens gaulesas.
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Quino. Joaquín Salvador Lavado (1932- )
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Argentino, aluno de Belas Artes, autor do Mundo Quino cria, em 1964, a sua personagem mais conhecida, Mafalda. Editada em jornais, Mafalda é uma menina que detesta sopa e questiona o mundo à sua volta, preocupando-se com a Humanidade e a Paz, sendo comparada a Charlie Brown.
Com aguda visão crítica, questiona os problemas políticos e científicos, reflecte sobre os conflitos humanos, a mudança dos costumes e o uso da tecnologia no quotidiano. A sua publicação interrompeu-se nos anos setenta.
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Hugo Pratt (1927-1995)
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Italiano, Hugo Pratt conhece o desenhador Mario Faustinelli, e inicia-se na banda desenhada Juntamente com Alberto Ongaro, Damiano e Dino Battaglia, constituem o "Grupo de Veneza". Colabora na revista Asso di Picche, e, a convite, viaja para a Argentina, 1949, onde reside até 1962.
Em 1967, conhece Florenzo Ivaldi, empresário genovês louco por banda desenhada e juntos lançam uma nova revista mensal, Sgt. Kirk, onde aparecem as primeiras páginas de Una Ballata del Mare Salato e o novo personagem, Corto Maltese, que lhe viria a dar fama.
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Charles Schulz (1922-2000)
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Americano, conhecido pelas personagens Peanuts, que se caracterizam pelos comentários sociais e frequente referência a temas religiosos, são vistos como um dos melhores exemplos de escrita cómica de todos os tempos e é grande o seu pendor influenciador.
O protagonista
Charlie Brown é a imagem de uma persistência determinada, embora, com o passar dos anos, Snoopy
venha a quase centrar em si as atenções.
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Bill Watterson (1958- )
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Americano, é o criador de Calvin and Hobbes, série de banda desenhada que surge em 1985 e se publica em mais de 2000 jornais até 1995, quando o seu criador se retira dedicando-se à pintura.
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Cheio de personalidade, Calvin tem como companheiro Hobbes, um sábio tigre de peluche, seu amigo e que ele dota de vida. Denotando uma visão única do mundo, Calvin evade-se da cruel realidade do quotidiano imaginando super-herois e extra-terrestres, e, através dele, Watterson explora a essência humana, narrando situação insólitas, sendo que o nome de Calvin foi inspirado em Calvino, reformador da Igreja do séc. XVI.
Hobbes inspira-se no filósofo do séc. XVI, Thomas Hobbes, homem de visão obscura da natureza, para quem o "o homem é o lobo do homem", predador de seu próximo.
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4 comments:

Anonymous said...

Excelente retrospectiva da BD, desde os seus primórdios até à actualidade.
Obrigado por me ter feito recordar os meus tempos de infância, em que o "Cavaleiro Andante" ocupou papel importante. Depois o "Tintin", o "Major Alvega".
Mais tarde, "Lucky Luck"(ainda de cigarro, e não de palhinha na boca), e "Asterix".
Tudo isto acompanhado dos personagens de Walt Disney, eternos como os outros.

A BD é para crianças, mas também para os que o não são.
Guardo religiosamente os meus albuns, que releio periodicamente, alguns como se fosse a primeira vez. É um prazer reconfortante, saber que perduram tantos anos passados.

Obrigado por este fantástico post!

teresamaremar said...

Boa noite Rigoletto

muitos teriam de ficar ausentes, inevitavelmente, e, entre os que urgiam, a minha preferência também se impôs :)

Sempre que penso em BD, vem-me um fim de tarde, há mais de 25 anos, no Metro, cheio de gente, e eu a gargalhar, sem me conseguir conter, com uma tira da Mafalda, em que o pai colocava açucar nos orifícios das tomadas para atrair as formigas :))))

Imperdoável, talvez, a ausência de uma referência ao Cavaleiro Andante. Talvez mais tarde um post exlusivo, pois tenho muitos exemplares.

CHEVALIER DE PAS said...

Belo post!

O título lembrou-me uma história que uma professora que eu tive de física das da velha guarda contava, e eu associava a história à BD, e não tem nada que ver com BD, mas eu fazia essa associação. A professora era tão engraçada a dizer isto e dizia-o tantas vezes, que eu nunca me esqueci, e provavelmente conhecem a história, mas eu conto na mesma, então é assim, sempre que ela nos fazia alguma pergunta e nós não sabíamos dizia assim (finalmente)

De que côr é o cavalo branco de Napoleão? (supostamente perguntava ela)
é aos quadradinhos! (supostamente respondíamos nós)

Sempre achei um piadão a esta maneira de chamar de ignorantes os alunos, porque ela tinha mesmo piada a dizer isto!

teresamaremar said...

Gosto, Chevalier, que os meus posts destapem ou desenterrem lembranças :)

obrigada, eu não conhecia o trocadilho dos quadradinhos, não sei se é comum ou se seria apenas usado pela sua professora.